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Análise – Vampire: The Masquerade – Coteries of New York

Se você é fã do universo do RPG de mesa Vampire: The Masquerade (Vampiro: A Máscara), pode se preparar para um 2020 bem intenso. Primeiro tivemos a revelação do ambicioso RPG Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2, que chega no final de 2020, e agora temos Vampire: The Masquerade – Coteries of New York, que se trata de um Visual Novel com uma grande experiência narrativa ambientada no rico universo de Vampire: The Masquerade 5th Edition, com sua história focada na luta pelo poder entre duas facções vampíricas, que são a Camarilla e os Anarquistas. Vale lembrar que esse mesmo jogo ainda terá uma expansão standalone ainda em 2020 (que não precisa do jogo base) chamada Vampire: The Masquerade – Shadows of New York, que nos fará jogar como um membro do clã Lasombra, os antigos inimigos cruéis da Camarilla. Ou seja, tem muito conteúdo para você explorar sobre esse universo durante esse ano.

Vampire: The Masquerade – Coteries of New York é um jogo da desenvolvedora Draw Distance, que apresenta uma trama central bem intensa e imersiva, e que não só traz uma bela introdução sobre o mundo de Vampiro: A Máscara, como também deve atiçar sua curiosidade em saber mais sobre ele.

História

Antes de entrar de cabeça nesse universo, você deverá escolher entre três personagens pré-definidos. Um rebelde do clã Brujah, com as Disciplinas (poderes) da Velocidade e Potência. O outro é uma esnobe Ventrue, com seu famoso controle sobre as técnicas da Dominação e Presença. E por fim, um artístico Toreador, com sua forte Presença e Auspícios. A escolha desses personagens cria uma série de facilidades em alguns diálogos, e eles podem ter sido escolhidos justamente por apresentarem um caminho mais fácil para desenvolver a trama. Não quer uma complicação desnecessária? Domine alguém para que faça o que você deseja. Não tem chance em um confronto físico? Use sua velocidade sobrenatural.

Cada um deles possui uma introdução diferenciada e que traz bem a personalidade de cada um. Isso também oferece formas diferentes de abordar e concluir as situações, o que te dará a curiosidade necessária para jogar com cada um deles e ver o que muda.

Em Vampire: The Masquerade – Coteries of New York você é um vampiro recém-criado, mas que cai de paraquedas nesse mundo, não sabe o que está acontecendo, pois entende que está morto, mas continua, de certa forma, vivo, mas com uma inexplicável sede de sangue. Do nada, surge um estranho, e amedrontador, homem, que manda que você o siga, para que então você tenha alguma explicação sobre o que aconteceu com a sua existência. Falar mais do que isso, pode estragar a sua descoberta, então vou me ater aos detalhes mais gerais.

Ao chegar em uma reunião, com pessoas que parecem importantes, você é apresentado a Camarilla, que é uma organização que foca em manter os vampiros dominando o mundo através das sombras, e no caso do jogo estamos focados em uma espécie do submundo de New York. Esse sistema de esconder a existência dos Vampiros para os humanos é chamado de Masquerade, e sua transformação em um lugar um tanto quanto público quebrou essa regra crucial para a sociedade dos vampiros imposta pela Camarilla. É feita uma reunião e a sentença dada pelo Prince, que é a grande líder de todos, é a Morte Final, onde você deixará de existir de uma vez por todas. Você pode pedir clemência, e uma bela mulher chamada Sophie será sua protetora, e te guiará por essa nova vida junto da Camarilla e os Vampiros que protegem a Masquerade. Daí em diante começa a sua jornada em meio a descobertas, muitos esquemas políticos traiçoeiros e alianças desconfortáveis.

Sua principal missão no jogo é criar a sua própria Coterie, uma espécie de grupo de aliados para te ajudarem em uma situação de perigo, assim como você poderá ajudá-los em alguma necessidade. Eles não serão seus amigos, mas serão o mais próximo de algo do tipo em uma sociedade tão traiçoeira, e o jogo consegue passar esse sentimento de forma bem madura. Existem quatro clãs que você pode entrar em contato para essa parceria. Temos um conflitante feiticeiro Tremere, um divertido detetive Nosferatu, uma Gangrel de lealdades conflitantes e uma Malkaviana com seus próprios objetivos imprevisíveis. Todos oferecem tramas interessantes e que te prendem até o final de cada uma delas. No entanto, dependendo das suas escolhas, você pode nem chegar a conseguir a recrutar esses aliados, o que já é motivo mais do que suficiente para tentar forjar essas alianças em um novo gameplay. Também existem missões secundárias, com desfechos e personagens bem inusitados.

Cada uma dessas missões também te oferecem informações sobre esse novo mundo dos Vampiros que você acabou de conhecer, com novas perpectivas sobre a dominância da Camarilla, do respeito, ou falta dele, em relação a Masquerade, e até mesmo a descoberta de grupos de Anarquistas, que não acreditam ou seguem as regras rígidas da Camarilla, e que possuem sua própria maneira de viver em sociedade. Ou seja, tem muito para explorar e descobrir em cada novo diálogo e texto que aparece em sua tela.

Apesar de uma trama imersiva, senti falta de mais detalhes sobre o passado do nosso personagem e do seu desenvolvimento pessoal como Vampiro, com algo que não estivesse tão atrelado em conhecer outras pessoas já estabelecidas nessa sociedade, mas algo mais intimista, entre ele e sua besta interior. No geral, é uma história que vale a pena acompanhar, principalmente por mostrar a complexidade de uma sociedade de Vampiros em uma era de modernidade. Mesmo faltando um pouco desse toque mais profundo para o nosso personagem, se trata de uma experiência bem interessante, tanto para alguém que já curtia Vampiro: A Máscara como eu, quanto para alguém que busca conhecer um pouco sobre esse universo.

Escolhas importam?

Como disse no início dessa análise, Vampire: The Masquerade – Coteries of New York se trata de um Visual Novel, dessa forma você passará todo o seu gameplay lendo textos e diálogos para realizar escolhas, que servem para direcionar os acontecimentos. É basicamente isso.

O jogo possui uma série de escolhas que mudam os aliados que ficarão ao seu lado, os desfechos das missões, e até mesmo uma morte precoce no jogo, trazendo peso em cada decisão que precisamos tomar. Mas, infelizmente, como muitos outros jogos que se baseiam nas escolhas dos jogadores, Coteries of New York não oferece uma mudança muito drástica para os seus acontecimentos, e independente das suas decisões, os acontecimentos chaves serão os mesmos, mudando muito pouco entre cada personagem. E isso fica evidente ao reiniciar o jogo buscando outras perspectivas. Mesmo realizando escolhas bem diferentes, os desfechos se mantiveram os mesmos, com leves, e até mesmo insignificantes, variações. Para quem quer apenas conferir uma boa trama com Vampiros isso não é um problema, e o jogo é muito competente nesse ponto, mas se você busca algo onde suas escolhas tenham grande impacto na narrativa pode acabar se decepcionando.

Ainda com base nas escolhas do jogador, existe um sistema de Alimentação, pois como já sabemos, Vampiros se alimentam de sangue humano, e não é algo que você possa ligar para o Ifood e pedir casualmente. Além disso, sair se alimentando indiscriminadamente pode quebrar as regras da Camarilla, seja por ser descoberto ou estar se alimentando no território de outro clã. Dessa forma, precisamos constantemente escolher entre se alimentar de alguém ou deixar a vítima passar. Se alimentar sacia a sua sede, mas pode te deixar vulnerável aos olhos curiosos, ou no caso da Ventrue, pode te fazer vomitar um sangue que não agrade o seu paladar tão específico.

Um grande problema de ficar sem beber sangue, é que esse estado pode acordar a seu besta interior, e fazer você sair do controle virando uma máquina de matar, o que também irá contra a Masquerade e a sociedade da Camarilla. E isso também tem impacto nos diálogos, pois quando você está com níveis altos de fome, algumas opções mais coerentes ficam desabilitadas, pois em seu estado instável, devido à falta de sangue, seria ilógico tomar uma decisão centrada. Durante meus três gameplays, um com cada clã, escolhi me alimentar regularmente e também dar voz para a besta, mas praticamente não houve um impacto real, o que me decepcionou um pouco. No geral, é um sistema inteligente e que traz um clima interessante do que seriam os conflitos diários de um Vampiro para se alimentar. Mesmo que tenha faltado um impacto maior, trouxe uma boa nuance para a trama.

A primeira jogada dura em torno de umas 8 horas, com esse tempo caindo bastante, até mesmo pela metade, em um segundo gameplay, justamente pela falta de caminhos diferentes a seguir. A primeira jogada é maravilhosa, a segunda já não é tanto assim, justamente pela falta de mudanças mais significativas para cada personagem e nossas decisões.

Uma ambientação impressionante

Os cenários são muito importantes para um Visual Novel, pois como você fica o tempo todo olhando para textos e diálogos, o plano de fundo precisa ser interessante para não cansar essa progressão. Vampire: The Masquerade – Coteries of New York traz ambientes muito bem desenhados e que possuem leves animações, como a chama de uma vela, uma fumaça em uma rua…. Tudo é bem sutil, mas acrescenta muito para a atmosfera intimista da trama e daquele universo. A arte do jogo, como um todo, é impressionante, tanto os cenários quanto os personagens, que mesmo estáticos, trazem toda a alma daquele mundo para a tela, e é impossível você não se sentir imerso nele. Um pacote irretocável.

Meu maior problema com Coteries of New York são seus problemas técnicos. O primeiro deles quase me fez desistir do jogo. Meu primeiro personagem foi um Ventrue, e um belo dia aconteceu um bug bizarro no jogo onde não aparecia nenhum botão para eu prosseguir, se tornando impossível continuar o gameplay. Com muita paciência, pois estava realmente interessada em descobrir o desfecho daquilo tudo, fiz um novo personagem, mas o mesmo erro aconteceu. Então parti para um terceiro slot de save, mas dessa vez eu consegui terminar. No entanto, dessa vez, e das outras duas, fui do começo ao fim sem salvar, o que me levou a pensar que possa se tratar de algum erro do jogo que corrompe os arquivos de salvamento. Inclusive já passei esse feedback para os desenvolvedores. Um problema muito chato e que pode tornar o título injogável.

O sistema de salvamento é bem ruim mesmo. Não só por esse possível erro, mas por ser totalmente manual, e só ter a opção de “Salvar e Sair”. Isso não só limita a liberdade de criar diversos saves e explorar mais as escolhas, como também pode gerar uma perda total de progresso, caso o jogo trave ou você fique sem luz, por exemplo. Além disso, é bem chato toda vez que salvar o jogo ter que ir para a tela inicial. Outro problema mais leve, mas que também pode trazer complicações, é o ritmo que os textos aparecem na tela, pois enquanto uns dão uma leve pausa entre uma página e outra, em alguns momentos o jogo segue uma velocidade diferente e você pode acabar realizando uma escolha que não queria. Acontece pouco, mas acontece.

A parte sonora de Vampire: The Masquerade – Coteries of New York é incrivelmente atmosférica, pois com a falta de vozes, a grande protagonista é a trilha sonora, e ela não decepciona. Os temas são profundamente sombrios e poderosos, dando peso para o que acontece na tela, seja injetando mais potência em cenas mais tensas, ou mostrando, com facilidade, a complexidade de cada personagem e suas narrativas. É realmente hipnotizante.

Infelizmente, o jogo está todo em inglês, o que torna praticamente impossível para quem não tem boas noções de inglês entender bem a narrativa e a sua progressão. Uma pena, pois limita muito o público da obra.

Opinião

Vampire: The Masquerade – Coteries of New York foi a minha primeira experiência com um Visual Novel, e foi uma primeira impressão muito boa acerca do gênero. Eu sou fã do universo de Vampiro: A Máscara, e o jogo me trouxe uma boa nostalgia das rodas de RPG da minha adolescência, o que me deixou imersa o tempo todo em sua trama. Além disso, a riqueza de detalhes sobre essa sociedade complexa de Vampiros, vai agradar bastante tanto os fãs do tema, quanto aqueles que buscam conhecer mais sobre o universo incrível de The Masquerade. A cereja do bolo fica por conta de uma apresentação audiovisual profunda e que traz todo o sentimento desse mundo, oferecendo um pacote atmosférico dentro da obra.

Apesar de alguns problemas técnicos, um tanto quanto complicados, a falta de uma localização em português, e a necessidade de mais impacto para as nossas escolhas, Coteries of New York é um bom jogo para os fãs de Vampire: The Masquerade, e se trata de um aquecimento interessante, para um ano que promete ser incrível para quem curte essa obra.

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