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Quando revelado, Scorn chamou a atenção do público com sua arte diferenciada, uma beleza grotesca e intensa, ambientes recheados de mistério dentro de um universo único. Ele é o jogo de estreia do estúdio Ebb Software, que se apresenta ao mundo com seu título de aventura e horror em primeira pessoa, com uma narrativa subjetiva dentro de um mundo que nos traz uma forte sensação de estar isolado e perdido dentro dele.

Com forte foco em puzzles e exploração, e até mesmo deslocados momentos de um jogo de tiro, Scorn chegou para os jogadores, curiosos para entender do que o jogo se trata. Será que a espera valeu a pena, e o jogo conseguiu mandar o seu recado? Confira em nossa análise a seguir.

Uma trama interpretada livremente pelo jogador

A história de Scorn é totalmente subjetiva, e você nunca sabe ao certo o que está acontecendo. O personagem, que parece um humanoide sem pele, é largado em um mundo bizarro que parece as ruínas de uma civilização, cuja sociedade era movida por máquinas envoltas com carnes, com uma arquitetura cheia de estruturas colossais em decomposição e muitos locais envoltos com uma espécie de organismo parasita, que deixa tudo ainda mais misterioso. Seria o nosso personagem um membro dessa civilização? Será ele o último deles? Será que a carne fundida nas máquinas gerou algum tipo de podridão que levou aquele povo a destruição? Durante toda minha jornada, perguntas surgiam em minha mente e eu buscava respostas de alguma forma em meio a ruídos esquisitos e um sentimento latente de sobrevivência.

Em determinado momento um parasita se funde ao nosso personagem, ancorado em suas costas, transformando aos poucos o seu corpo com cenas bastante nojentas, que vão se tornando mais intensas no decorrer do jogo. Em determinado momento eu quase vomitei numa sequência de desmembramentos causada por esse parasita. Mesmo pesadas, essas partes não são gratuitas e fazem parte do contexto do que está sendo apresentado.

Não existem diálogos ou documentos para expandir a trama e tudo deverá interpretado livremente pelo jogador.

Apesar de ser um jogo de terror ele não apela para os manjados jump scares, quando acontece algo subitamente para te dar um susto intenso, aqui o foco é na tensão constante, na estranheza daquele mundo e até mesmo o quão grotesco tudo ali se apresenta. A clara ideia dos desenvolvedores é deixar o jogador desconfortável enquanto busca decifrar o que está acontecendo naquele mundo, e eles entregam isso com maestria.

Você começa Scorn sem entender o que está acontecendo, mas quando chega no final parece que está no começo. Brincadeiras à parte, é a melhor forma de descrever minha experiência com o jogo. Para mim não é necessariamente algo ruim, eu até gosto dessas tramas subjetivas e abstratas, e senti que combinou bem com a proposta da Ebb Software.

Puzzles complexos, exploração imersiva e combate desnecessário

A descrição de Scorn diz que o personagem surge em um local que se parece com um labirinto biomecânico no qual deverá, por conta própria, encontrar seu caminho naquele mundo estranho, tudo sem dicas ou setinhas de direção, mas focado na capacidade de observar bem o ambiente ao seu redor para entender o que precisa ser feito. Precisamos interagir com dispositivos que parecem feitos de carne, alguns precisamos encaixar a mão, outros parecem que irão arrancar nosso braço e outros trazem puzzles intuitivos e inteligentes. Cada local possui seu próprio tema, assim como cada um deles possui seu próprio estilo de puzzle. No início tudo parece realmente muito complicado, e eu entendo perfeitamente que desistiu, ou quase abandonou o jogo, mas depois tudo acaba se tornando natural e a progressão fica mais interessante. Ainda assim é um jogo que poucos irão embarcar na proposta.

O estúdio já havia dito que queria passar essa sensação de ser jogado no mundo, e é exatamente o que sentimos. Fomos jogados naquele lugar grotesco e devemos dar um jeito de entender o que acontece ali absorvendo o que se apresenta ao nosso redor. Os puzzles realmente são complexos, mas acompanham toda a ideia de aprendizado do jogo, e aos poucos começam a se tornar mais fáceis de decifrar.

Os comandos também não existem claramente, você precisa descobrir como as mecânicas funcionam com base na experimentação. Aconselho sempre consultar o controle no menu para saber o que fazer, até mesmo coisas básicas como correr, interagir ou ver seu inventário, por exemplo. O jogo não te segura pela mão em nenhum momento.

Enquanto a ideia dos puzzles e exploração se encaixam perfeitamente com o universo criado para Scorn, o mesmo eu não consigo falar do seu combate, que parece deslocado o tempo todo durante a jornada. Lá pela metade do jogo começam a surgir inimigos, que podem te eliminar rapidamente. Você não é indefeso, mas ainda assim é bem mais fraco do que os inimigos, que podem te destruir com fortes ataques físicos ou te cuspindo uma espécie de substância ácida. Muitas vezes eu simplesmente recuei e esperei a criatura desaparecer, ou simplesmente corri como se não houvesse amanhã, já em outros o combate era inevitável.

O problema é que não existe esquiva ou recursos para você administrar essas lutas e você terá que simplesmente ficar andando rápido de um lado para o outro para atacar nas janelas que o inimigo dá. Não é uma mecânica muito interessante, justamente pois não tem muito o que se fazer e se torna apenas monótono e injusto, tanto que eu passei a ter receio de encontrar essas criaturas e tirou parte da imersão que estava tendo ao explorar aquele mundo. Me pareceu apenas um dispositivo para aumentar a duração do jogo. Acredito que caso o estúdio acrescente um modo apenas de exploração, sem esse combate desajeitado, o jogo se mostraria bem mais interessante e orgânico.

Essas batalhas também nos fazem gastar recursos importantes e muito escassos como munição e vida, que só podem ser recarregados nas pouquíssimas estações que existem espalhadas pelos cenários. As armas são quatro no total, que vão, aos poucos, expandindo o seu arsenal, de forma a tornar essas batalhas um pouco menos complicadas.

Esse combate punitivo colocou em destaque outro problema de Scorn, seu sistema de salvamento que é apenas automático. Os checkpoints são escassos e nem um pouco claros, você só sabe que salvou o jogo em momentos que você chega em uma nova área ou nas cenas de quando o parasita se funde mais ao personagem. Fora isso, acredito que aconteça apenas quando adquirimos as armas. Em determinado momento eu morri para um inimigo, que eu tinha que lutar, então eu voltei para o início do nível e tive que refazer meu caminho e puzzles, o que quebrou muito a minha imersão. Além do combate ser ruim, eu passei a evitá-lo ao máximo tanto para não perder recursos, quanto para não ter que refazer sabe-se lá o quanto da progressão feita.

Uma beleza grotesca e única

Algo que me chamou atenção acerca de Scorn, desde a sua revelação, é sua proposta audiovisual muito intensa, com cenários que trazem máquinas envoltas com carnes, com uma mistura de mistério, solidão e o grotesco, tudo regado com muitos corpos, inteiros e desmembrados, espalhados por todo os cantos, com um gore que gera desconforto constante no jogador. Os cenários são perturbadores e claustrofóbicos, mas curiosamente dotados de uma beleza única, com fortes inspirações nas obras de de H.R. Giger e Zdzislaw Beksinski. É realmente difícil de explicar. Eu mesma alternei sentimentos de nojo e admiração durante toda a minha experiência, o que só destaca o trabalho primoroso da Ebb Software, que prometeu entregar uma proposta única e realmente atingiu seu objetivo.

Os efeitos de luz e sombras são primorosos, assim como os cenários extremamente detalhados, que nos deixam profundamente imersos nesse universo bizarro e belo. O desempenho também é bom oferecendo uma experiência sempre suave.

A trilha sonora, composta por Aethek e Lustmord, também acompanha toda essa proposta imersiva de um mundo hipnotizante, trazendo temas e ruídos nos momentos certos, nos inundando com apreensão e um sentimento de vazio, que encaixa brilhantemente com o que vemos na tela.

Apesar de não possuir nenhum tipo de diálogos ou textos, toda a interface do jogo está disponível em Português do Brasil.

Opinião

Scorn me ofereceu uma experiência realmente única, que trouxe um sentimento constante de tensão e desconforto, com cenas intensas e atmosfera de inquietação. Seu mundo está interligado de forma inteligente, destacando bem suas estruturas enigmáticas e o mistério que envolve seu universo. Os puzzles são complexos e colocam o jogador para pensar e observar tudo o que existe ao seu redor, trazendo uma imersão profunda. Graficamente, o jogo entrega uma arte singular, que mesmo perturbadora consegue ser estranhamente bela.

Mas nem tudo funciona bem em Scorn, e o jogo tem o combate como seu ponto mais fraco que, para mim, num contexto geral, se mostrou desnecessário e anticlimático. Não funciona bem por causa das limitações do personagem, se tornando apenas punitivo e um artifício para estender a duração do jogo, que dura cerca de 6 horas. O sistema de save é muito ruim e acaba punindo muito o jogador, caso ele falhe nas sequências de combate.

De uma forma geral, Scorn entrega uma experiência singular, que tem coragem de não ser um jogo para todos e de ser ele mesmo, doa a quem doer. O jogo está no Xbox Game Pass então crie coragem e conheça um pouco dessa proposta única dentro de um mercado de games com tão pouca inovação.

Comprar Scorn na Microsoft Store
Plataformas: Xbox Series X|S e PC
Publicado por: Kepler Interactive
Desenvolvido por: Ebb Software
Data de lançamento: 14/10/2022
Opções de compra: Microsoft Store

O jogo foi cedido gentilmente pela desenvolvedora/editora para a realização desta análise.

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About Author

Administradora de Empresas, mas apaixonada pelo mundo dos games e pelo Xbox!Fã da incrível e complexa franquia Halo e de seu icônico líder, o Master Chief. Também apaixonada por Dragon Age e seu universo magnífico. Ahhh e quem disse que Dark Souls não é divertido? :DSempre ligada nas notícias e novidades do lado verde da força!

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